quinta-feira, junho 22, 2006

A blá-blá-blá dos sete talentos:

«Era uma vez, à bué e bué da séculos, um senhor proprietário de muitos terrenos e detentor de uma fabulosa fortuna. Um dia teve a necessidade de se preparar para uma looonga viagem de negócios. Tinha três empregados a quem chamou e confiou uma soma de dinheiro dizendo-lhes o seguinte:
- Vou ausentar-me por tempo indeterminado. Peço-vos que sejais os meus fiéis depositários. Guardai pois, cada um, sete talentos de ouro.
Assim o disse e assim o fez. E depois foi-se.
O primeiro dos empregados viu-se com a guita na mão e assustou-se com a responsabilidade. Pensou, pensou e disse: Bom! então, até já... e pirou-se para um sítio que só ele conhecia, olhou em redor, viu que num estava a ser observado, abriu uma buraco e escondeu, muito bem escondidinho, o dinheiro todo. Mais tranquilo e sossegado voltou a sua vidinha.
O segundo olhou para a fortuna que tinha em mãos e pondo-se a pensar chegou à seguinte conclusão: «Mén! que sorte... bem... vou apostar uma béquinha nas corridas de camelos.» E, assim, no sábhat seguinte dirigiu-se ao camelódromo e, judiciosamente, fez os seus cálculos e apostou forte e feio. Não meteu tudo no mesmo "cesto", foi esperto. Fez um cálculo de probabilidades e esperou pacientemente... Perdeu tudo, bem... recuperou meio talento. Mas, desesperado para recuperar os outros, pois, também esse perdeu.
O terceiro... [vou ali atender umas crianças]
Bom, o terceiro sentou-se. E ficou a olhar para a responsabilidade que lhe tinha sido conferida: «Mas o que é que eu faço agora?» E, enquanto pensava, reparou que não tinha recebi instruções nenhumas. Que o patrão nem lhe tida dito para fazer "isto" nem para num fazer"aquilo", uma total falta de indicações é por si só uma grande indicação. «Éh! Carta branca para gerir o dinheiro que o senhor me deu.» Concluiu, e, então, pegou numa das moedas de ouro e no dia da feira foi lá ver se se podia arriscar nalgum negócio. Viu, viu, pensou, pensou, e, após profunda análise arriscou investir nuns ovos. Comprou uma data deles, pagou com o talento e recebeu dois terços de troco. Voltou para a "sua" terra onde os tentou revender. Bem..., vendeu tudo. Repôs o talento que faltava e, com o lucro (um terço de talento) voltou à feira e tornou a comprar ovos. à terceira, já mais confiante com o mercado de oferta e procura tornou a ir ao fundo de maneio do senhor e com um talento comprou um galo e duas galinhas poedeiras. Nunca mais comprou ovos, agora era produtor.

Entretanto o senhor demorou, demorou, mas quando voltou pediu contas.
Lança-se o segundo logo a seus pés, chorando copiosamente e batendo com a testa no chão: «Ai! Ai! Ai!»
- Mas o que é que se passa? - pergunta o senhor.
- Ai!... Senhor... Assim que partiu caiu-me a responsabilidade dos talentos que me tinha confiado, fiquei desejoso de lhe retribuir a honra com que me agraciou. Então arrisquei... mas perdi tudo. Buáááá-ááá Ááááá, (snif-snif)!
- Mas como perdeste tudo, era uma fortuna.
- Apostei! Buáááá-ááá
- Certo... certo... - (enchotando-o com o pé) e virando-se para o primeiro, interroga-o com o olhar.
- Também eu senti, Senhor, o tremendo peso da responsabilidade que por sobre mim recaiu, e, então, guardei-o muito bem guardado num sítio que só eu cá sei, e nunca mais lhe mexi. - terminou sorrindo.
O senhor, de cara velada, retroquiu-lhe - Certo, vai lá buscá-los! - É que nem precisou de terminar a frase e já estava o fulano de abalada.
Foi num pé e veio noutro, ofegante. Aproximando-se repeitosamente, de imediato largou os talentos nas mãos do senhor, como se estes o'stivessem a queimar. E, entre vénias, acrescentou - Aqui estão, todinhos, num falta nenhum. - Com um aceno o senhor dispensou-o, e, virando-se para o terceiro perguntou-lhe:
- E tu, desgraçado, o que é que fizeste?
O terceiro de imediato abre uma bolsa que trazia à cintura - Aqui estão senhor, os talentos que me confiou: Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. - Uma a uma, as moedas passaram de mão. - Mas tenho mais para sí, Senhor! - continuou - Aqui estão mais nove talentos que lhe pertencem, pois realizei-os com o capital que me disponibilizou. Para além disso, passámos a ter uma nova capoeira que nos fornece, todos os dias, cerca de uns trinta ovos. Estou agora a investir no comércio de lãs, pois comprei também umas cabras, por mor do leite, mas agora são tantas que já as tosquiei e recebi mais algum rendimento. Tudo isto obviamente que lhe pertence.
A cara do senhor iluminou-se num sorriso. Vejam lá que até chegou a dar-lhe um abraço de contentamento.
- Pois fica com o dinheiro do lucro que conseguiste. Muito mérito tiveste. - virando-se para o primeiro, acrescentou - Já que gostas tanto de escavar buraquinhos vais trabalhar para as valas. Nas minhas viagens tomei conhecimento de um novo conceito muito interessante e obrigo-te a pô-lo em práctica. -
Virando-se para o segundo, disse - Tu! considera-te desde já ao serviço de um novo senhor. - virando-se para o terceiro, perguntou-lhe:
- Não se importa, pois não? Imagino que, com tanto trabalho, lhe faça falta um escravo. Entretanto quero fazer-lhe um "briefing" para o informar sobre uns assuntos... Pois gostaria que ficasse responsável pela implementação de uma rede de "saneamento básico" aqui nas minhas propriedades.
- Áh! mas, e as galinhas e as cabras...
- Óh! homem, compre mais um escravo, é para isso que o dinheiro serve... (fazendo um gesto expressivo) Para nos facilitar a vida. - E tornando aos outros:
- Estão dispensados da nossa companhia. Retirai-vos! - E os dois lá foram, infelizes, enquanto o senhor e o seu predilecto, pois, casaram-se, tiveram muitos filhos e foram felizes para sempre.»

Bom! A estória num é bem assim. No original há bué de «ranger de dentes» e essas coisas. E, muito importante, o senhor não atribuiu a mesma quantia de talentos a todos, um ficou com pouco, outro assim-assim e ainda outro com mais. Mas para o que é que serve esta estória.
Se é verdade que não nascemos todos com os mesmos talentos, também é verdade que há, no entanto, a responsabilidade de os desenvolver, cultivar e investir de modo sagaz.
- Mas o que é que a Teresa tem a haver com isto? - perguntas-te tu.
- Teresa, qual Teresa? - Perguntas-te tu mesmo à séria.
- A Teresa que andava sempre a fazer seguros de vida...
- àh, essa, sim! o que é que tem a haver?
- Sempre me impressionou o que ela conseguiu desenvolver com os parcos talentos com que veio ao mundo. Sei lá... Nasceu em Figueiró-dos-Vinhos, os pais num sabiam ler nem escrever, a irmã vende malaguetas exóticas na feira da Malveira (também não está mal!) e, a última vez que vi Teresinha, não dava vazão aos pretendentes... Suponho que tenha casado novamente e sido feliz para sempre.
Enfim, toda a sua história de vida que não consigo contar aqui.
Em comparação com ela sempre me senti um desgraçado. Um indigente, um cábula, um preguiçoso, e sabe deus a conta em que me tinham. Pois a ela todo o mérito, e a mim, que na altura tinha aí de uns dezasseis aos vinte e muito poucos, «um eterno ranger de dentes». Por acaso passou-me, mas duvido que algum dia lhe chegue aos calcanhares. Tal como via a coisa, ela até pode ter nascido com um terço de talento, mas aplicou-o como deve ser e fez uma pequena fortuna, enquanto eu esbanjava-o, a torto e a direito: acho que era capaz de o apostar. E de o ir perdendo. Mas diverti-me que me fartei. É isso: fartei-me.

5 Bombadas­:

Anonymous Anónimo acrescenta que...

marta g.

onde estas estorias já íam...foi mt giro, revivi imensas memorias...
é serio? estás farto? e ainda tens talentos para investir? ;~)

11:19 da tarde, junho 22, 2006  
Anonymous Anónimo acrescenta que...

André G.

[olha a estúpida, olha a parva! ...ainda assim...] seja muitíssimo "bien-venida" e aparecida, querida Marta G. (pois, de goiaoia, o que havia de ser)... ái!, espera, tenho de ir: deixei um commante pá Sô Dona-num-tarda nada-doutora a meio.
p.s.: adorei o teu telefonema.

11:44 da tarde, junho 22, 2006  
Blogger Goiaoia acrescenta que...

Ena, ena! A Martatita ensinou-me como é que se faz um nariz...

4:03 da manhã, junho 23, 2006  
Blogger Dia acrescenta que...

Maninho,
Grande lençol. Até acordei mais bem disposta, cheia de vontade de ir aplicar os meus talentos numa folha de jornal

9:47 da manhã, junho 23, 2006  
Blogger [ t ] acrescenta que...

olha que nem me tenho palavras. adiante! que é agora que pega fogo.

(ficou um sorriso)

11:48 da manhã, junho 23, 2006  

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