[Tenho de postar este cómante]
[e agora, ora aqui vai um aviso: O teor deste comment é uma agonia. Tanto ou mais do que discutir televisão ou o liberalismo democrático.]
Cara Madalena e cara Daniela,
Antes de mais, tenho para mim que "antes um bom muçulmano do que um mau católico". Mil vezes. Paz na Terra aos hoMens de boa-vontade!
E isto apesar de considerar que foi Cristo o homem que nos trouxe a mensagem. E a mensagem é Amor. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!” Amor desinteressado, amor por ti próprio, amor ao próximo. Amor 'tão forte, 'tão forte que numa lei erradicou todas as outras. Um só mandamento substituiu todos os outros dez que proclamavam que não isto e não aquilo mais aquel'outro; e tudo o resto era proibido. O Novo Testamento surgiu para que se mandasse o antigo fora (Descartem-se dele e das lógicas de Tabelião.).
Agora reparem no seguinte: Vocês não seguem Cristo, vocês seguem são Paulo, vocês seguem são Pedro e todos os que edificaram um edifício em torno de Cristo, na crença de que a verdade que defendiam detinha valor universal. Católico significa Universal, como decerto saberão.
E há aqui uma presunção muito perigosa. Muito perigosa, inclusive, para os valores de liberdade, fraternidade e igualdade que possibilitaram o desenvolvimento do livre arbítrio (O livre arbítrio é o que nos vale, é o que faz de nós homens com M grande.). Reparem bem. Há uma cisão no mundo cristão, porque o Vaticano se recusa a reconhecer legitimidade aos Patriarcas das outras seitas cristas. Crê o Papa ser o único que pode falar por Deus Filho na terra. O único intermediário no universo, o único representante legal. Acham razoável? Acham que os cristãos Coptas e os Ortodoxos estão muito enganados? Que são muito folclóricos? E os protestantes? Acham que são uns parvos, que não percebem nada disto, que têm má vontade? Pouco importa. Vocês não seguem a Cristo, seguem o indivíduo que diz que o segue. Confuso não é? Também acho.
Ama o seu vizinho? Ama os que lhe são estranhos? Olhe que são seus irmãos. Eram irmãos de Cristo, deveriam ser seus. Pensa que, se Cristo voltasse hoje, seria um homem diferente, que iria tomar mais cuidado com as companhias, sei lá, evitar os sidosos, os que têm hepatite e que arrumam carros quando num pedem trocos. Era capaz de ser irmã deles? Madalena, Daniela? Se não são irmãs porque é que querem ser mães dos outros, paternalistas, porque é que julgam que sabem melhor do que cada um sobre a sua vida. Porque é que se arrogam à pretensão de julgar saber o que é melhor para cada um que não sois vós? Porquê? Acreditam que se salvam ou que salvam os “outros”. E quem são os outros, já agora? Onde moram, em que condições, quantos filhos têm, em que escolas é que andam. Vão juntos à missa? Levam os vossos filhos às manifestações e fazem-nos empunhar uns cartazes com uns fetos esfrangalhados com um sinal de proibido em cima e dizeres “sim à vida”? E, já agora, certificam-se que estão bem penteados e melhor aprumados? E chegam e saem de carro? Essa coisas…
A arrogância, a Arrogância… minha Deusa!
Nossa Senhora Desatadora dos Nós
Alguma vez meditaram neste poema?:
«Salve, Maria cheia de Graça
Bem dita sois vós entre as mulheres
e Bendito é o fruto do V. ventre, Jesus.
Santa Maria Mãe de Deus,
Rogai por nós pecadores,
Agora e na hora da nossa morte.»
Assim seja!
Vêem-se como pecadoras? Pecam? E é em consciência que Lhe rogam que interceda por vós? Agora(!) e na hora da vossa morte (muito importante, para lá da hora da vossa morte, até ao dia do Juízo Final, acreditam nisso não acreditam? Porque é a única coisa que se aproveita no catolicismo. O Juízo Final, aquilo que vos põem cabresto, vos refreia. O temor de um Deus da Fúria. O Deus Irae, aos pecadores espera-os um eterno ranger de dentes, cuidado com a punição divina.) É? Olhem que há muitos pecados. Um deles é o da ingerência na vida alheia. Nas vidas que vos escapam, ou das quais vocês nem sequer querem saber. Ou querem-me convencer que compraram um telemóvel vermelho para acabar com a pobreza em África? O que sabem vocês de África? Da história das mentalidades africanas (vá lá, nem vou muito longe) do século vinte? É que vos posso contar qual é a Vantagem útil, prática e directa (em suma, pragmática) em “não” permitir o aborto na religião católica. Trata-se de uma guerra demográfica. Esperem aí, em Caps Lock: DEMOGRÁFICA, num fossem vocês fazerem confusão. A situação alterou-se um pouco no último decénio mas, em África grassa a pobreza e a corrupção. Os líderes são católicos, e entre as franjas mais pobres progride o Islão. O Islão avança ao kilometro por dia. Mas antes de isso acontecia que na Europa já se borrifou praticamente tudo para o Vaticano. Sobra-lhes muito pouco (bem, enfim… esta geração de fins de 80, 90 é um pouco maluca.) Resta-lhes a América Central e a do Sul, África e as Filipinas, coitadinhas. Num podem, nem devem perder território nem influência nessas bandas. Crescei, pois, e multiplicai-vos. Façam de nós muitos, façam de nós mais qu’ós outros, mais do que às mães.
Nas Américas há a competição ferocíssima dos Tele-Envangelistas de proveniência Anglicana, protestantes que num passam cavaco ao Papa. A ver se a Igreja Universal (tão a ver??, Universal! É fácil, num é?) do Reino de Deus paga dizimo ao Papa, é o pagas! E vão lá vão, já viram a fortuna que fizeram em tão pouco tempo? Imaginem os católicos, porque é que será que recorrem a todos os truques e artimanhas possíveis para não perder influência, poder? Porquê? Por amor a mim? A si? Ao próximo? Desinteressado? A sério?
E agora, vamos lá ver… a batalha está a ser perdida. E nem é culpa dos católicos praticantes, coitadinhos, os outros é que são mais e maus, ou mais maus. Ou bons. Em África desertam que se fartam e nas Américas igual. Por isso é que se fala de um Papa Latino ou Sul Americano. Num é porque somos bonzinhos e agora é a vez deles, isto num é as Nações Unidas. É só para recuperar élan. Força! Prestigio, ascendente.
É óbvio que num se podem desmobilizar as “forças” aqui na Europa. Uma religião dois sistemas só na China e eles dispensam. E então mobiliza-se a comunidade católica (alguma de vocês percebe peva de sociologia?) e formata-se-lhes o cérebro (alguma de vocês percebe de direito? E retórica?). Só isso explica os vossos dementes discursos.
Na china teve de se implementar a política de um casal um filho. Foi uma profunda alteração nos costumes, com consequências dramáticas mas resultados que saltam à vista. Estima-se que em menos de vinte anos a Índia vai ultrapassá-los em número de habitantes. Na Europa num foi necessário instituir politica nenhuma, facultou-se a tecnologia e foi um ver se te avias. Neste momento temos 0.75 filhos por casal. Num é um estrondo? E sabem que mais? Os emigrantes ajudam e de que maneira a inflacionar as estatísticas (Isto, a mim, só me dá vontade de rir, palavra de honra. É que é muitíssimo bem feita!).
Mas agora estou mesmo a ver, no dia do referendo hão-de sair dos lares e de suas casas todos os velhinhos que já nem quécam nem querem que se queque, mais ós católicos apostólhicos e os romanos todos juntos a não permitir que os “hippies” que vão para a praia num dia desses façam o que muito bem entenderem. Num senhor. “Estamos cá nós que não deixamos”. E depois, suas cabras, a chamarem de criminosa e sem vergonha à Carrie… Olha que francamente. Ao fundamentalismo que vocês chegaram. Gente adulta e informada, a fazer chantagem emocional. Que vergonha!
p.s. Num é a FAVOR do aborto, suas avantesmas, é a favor da sua despenalização. É a favor da opção por um mínimo de condições dignas de nascimento e formação. “Aquilo” que tenho certeza que vocês julgam poder ou vir a poder facultar aos vossos filhotes (e já agora que sejam muitos, gordinhos e felizes. E que os façam por onde vos der mais gosto!) Quiseram e querem fazer os vossos filhos por e no meio de amor, num foi. E agora imaginem… Uma outra vida. Sem horizontes, sem amor, sem confiança, ao abandono, de si, dos estudos, da rua, a machadada na adolescência, ou mesmo na infância. Uma rapariga de 15, 14 anos ainda é uma criança, desculpem-me mas é! E há tantas. Eu trabalho com escolas. Sei que há meninas a engravidar aos doze. O que é que vos parece? O que é que falhou? Foram as pecadoras de doze anos, foram os pais (ahahahah! Se fosse tão simples.) foi o sistema?, qual sistema? O vosso, o nosso ou o “deles”, o dos “outros”? que não sabem… coitadinhos! E se for uma mulher adulta funcional e integrada. O que é que tu sabes? O que é que eu sei? Quem sou eu para poder reduzir o âmbito de possibilidades que se colocam ao seu dispor. QUEM SOU EU? Para determinar e condicionar a vontade dos outros
p.s.s. Certo! As vossas primas não abortam, desmancham. Tipo, vão ali fazer um desmanche. Sei lá, a Londres ou a uma clínica espanhola. E, com um bocado de sorte ainda aproveitam as “rebajas”, que é para curar a neura. E bem precisam. Coitadinhas. Mas a não despenalização do aborto (em e numa porrada de circunstâncias condicionantes, num sei se leram sequer o diploma. Eu não, mas imagino.) vai compactuar com a indignidade e precariedade dos seres humanos que necessitem de recorrer a serviços ilegais. Num vos choca, irmãzinhas? A mim choca. Coitadinhas das meninas que vão parar a “clínicas” de vão de escada. Coitadinhas…
p.s.s. Agora e sempre me fez impressão a condição de beato. O que crê porque crê. A Fé é um acto voluntário de crença em algo que é improvável (perdão) que num é provável. Eu faço fé que dista daqui ao Porto 300 km, li algures, e acredito. Deus me livre de ir medir a distância para confirmar que se trata de um facto. Acredito porque sim, porque me facilita a vida, assim como aceitar que a China existe. Mas os beatos, dizia eu, sempre me fizeram muita impressão. Para começar, porque, apesar de ter assistido a algumas missas nunca mas nunca aprendi ou dominei aqueles códigos todos mais às ladainhas e as genuflexões. As ladainhas, então, eram do pior: metralhavam-nas! Cuspiam-nas (desculpem a imagem) cá para fora a uma velocidade impossível de acompanhar, quanto mais o que diziam. Sempre me interroguei, será que sabem o que dizem, será que entendem o que falam.