terça-feira, maio 30, 2006

"A especialização é boa para os insectos!"

Ana Vieira de Castro, na revista XIS, do Jornal Público, num dia qualquer:

“Mais tarde ou mais cedo, todos percebemos qual é o nosso maior talento e tentamos investir nele. A aposta nesse primeiro talento parece certa e natural, mas hoje em dia sabemos que a inteligência fica potenciada se conseguirmos desenvolver os chamados segundos talentos. Os especialistas em comportamento e motivação que identificaram a Inteligência Emocional (IE), classifica-na como a forma mais completa de inteligência. A IE define-se como o largo espectro de talentos e capacidades que todos temos. Racionais, relacionais, afectivos, artísticos e por aí adiante. Por sermos todos dotados de muito mais do que um talento, vale a pena identificar os outros e cultivá-los.”

p.s.: A frase do título pertence a Robert A. Heinlein.

quinta-feira, maio 25, 2006

Shazam!

acreditem que:
por esta é que eu num estava à espera...

quarta-feira, maio 24, 2006

Isto está muito escuro




Tomem lá cor

Trata-se de mais uma imagem (fragmento) do Pedro Amaral.
Entretanto as visitas já recomeçaram. É das exposições mais complicadas que tive oportunidade de "trabalhar". Os resultados estão a ser fascinantes... vocês sabem que, numa turma de vinte e poucos alunos do 1.º ano (antiga 1.ª classe) mais de metade viu a "Paixão de Cristo", lá... do Mel Gibson, em aramaico e tudo???? Gore! Os miúdos adoraram-no e eu ainda num o vi. E filmes de terror? (Mas terror à séria!). Imaginem, uma rapariguinha de 6 (seis) anos a explicar que viu o "The Ring" ("O Aviso")... É que nem quis saber se estavam acompanhados (familiarmente) ou não. Isso sim, seria entrar por territórios perigosos.
Comparados com a televisão às quais têm acesso, os conteúdos das exposição do Amaral e do Olaio são "soft's", "easy" mesmo.
(Todos viram o Shreck! e a desgarrada da princesa com o passarinho no primeiro filme. Agora em parêntensis porque é um aparte e um desabafo: No último dia 25 de Dezembro, à tarde, na "sic" o programa contemplava o "Shreck 2", com prái uns 4 ou cinco intervalos de 20 a 30 minutos. Pois foi sem dó nem piedade, a cada intervalo publicidade às linhas "eróticas": «vêm! ããããhânnnn... liga-me» e as poses e fotos do costume. E eu fico sem saber o que é que é mais grave. Se ter sido sem querer se ter sido por querer. Em ambos os casos mete-me nojo. (E acrescento, será que a outra menina teve a sorte de ver o "The Ring" em dvd?))

Fiquem pois com esta "Branca de Neve" à lá Liz Tayler.

terça-feira, maio 23, 2006

pós-Post pó'xtenso

Vou tentar ser honesto.

Hoje passou por mim, no outro lado da rua, um conhecido de longa data. Lá ía, todo satisfeito com o cabelo cada vez mais integralmente grisalho e os seus calções ou bermudas. São-lhe ambos practicamente imagem de marca. Enfim... os calções ou lá-o-que-é são mais para quando o tempo pede. E têm-lo pedido - à noite tem arrefecido, mas os dias estão bestiais -. Mas então, passando por mim, despoletou-se-me uma série de associações de ideias, a saber (e é impossivel ser exaustivo e terei de ser redutor além de que num existe critério na ordem da sua apresentação):
-- Devemos ter a mesma idade.
Mas, a mim, cabelos brancos sei de um numa das sobrancelhas (num malembro qual delas) e de uns quantos mal semeados pelo queixo ainda que em menor número dos que prevalencem ruívos mas dos quais ninguém suspeita a existência ou mesmo a probabilidade de existirem. (Mas é verdade. Tenho pêlos ruivos na barba mas num se vêem [Tens de te aproximar muito mais...].)
Sempre que vejo estes "casos" fico meio fascinado. Recordando pontualmente uma assolapada paixão de amizade que mantive com a única menina de 13, 14, 15 anos... que conheci no liceu. Imaginem: uma menina de cabelo branco, branco e cada vez mais branco.
Sempre atribuí um charme desmesurado aos cabelos brancos. E já agora brancos amarelos e roxos. Os roxos eram mais para as velhotas e o amarelo mais pós vélhotes, mas eram um vistaço! [como é que esta porra se escreve??] Fico meio fascinado.
E recordo-me invariavelmente de uma anedocta (isso, com cê e tudo): Perguntam a um banqueiro durante um jantar porque é que tem a barba toda branca e o cabelo negro. -Áh!- responde o "bancano" - ...deve de ser porque utilizo mais a boca do que a cabeça.
Tão a ver? bem...
Será que falo mais do que penso? É muito provável. E ele, será que pensa mais do que fala?? É razoável. Só mal o conheço, em anos e anos de coexistência bairro-altista... num estou seguro.
-- Os calções.
Aquilo nem chegou a ser um despique... Mas, e a dada altura, o euroliberal chamou-me bandalho. Vindo de quem veio soube-me a elogio, mas e no entanto, e desde dentro da sua prespectivazinha, dou-lhe razão. Sou um bandalho. Nem é tanto por: nunca ou só em caso de casamentos, baptizados, funerais ou um frio de rachar e ainda assim... meter a camisa para dentro das calças (o que me permite num usar cinto, já agora, sempre que me apeteça); ou por andar permanentemente a tentar deixar crescer a barba para depois a cortar ao fim de uns (poucos) dias, só para tornar a tentar de novo; ou por estar a ficar careca e num investir valentemente na DERCOS (tm); ou por usar sandálias, e, se estiver um frio de rachar... pimfas! Meias comigo.; ou... num querem mais, pois não... Áh! muito importante, falta-me um dente por detrás do canino superior esquerdo. Mas tomo, no minimo um banho todos os dias, o que me torna num bandalho asseado.
E orgulhoso de todo o conforto que "isso" acarreta. Isso, a condição de ser bandalho. Bem tem alguns inconvenientes. Aqui o "jê" ainda não foi desenterrar das caixas marcadas com "roupa de verão" que ainda se encontram desterradas no ármazem que arranjei para os transbordos pá minha nova morada. Foi à quase dois meses... que está bom tempo e, ainda sem calções e sem t-shirts fininhas e os pólos... os meus adorádos pólos. Isto, para se ser um bandalho à séria, requer muita disciplina, senão pode dar para o torto...
-- (...)
Já chega, num?
Perdi ou orientei-me assim durante uns vinte passos no Calhariz, e depois segui a vida, a minha vidinha.

segunda-feira, maio 22, 2006

Cópia III

Só mais isto: «(...)
Estou farto de tentar arranjar artimanhas que exprimam de modo completo o que não é sequer compreensível. Lugares-comum, plágios, joguinhos de gramática e ilusões de escrita: tudo para a fogueira, antes que seja tarde! Pretensiosismos nojentos que nos levam à esfera do pseudo-intelectualismo de escritores faz-de-conta [moi même]... As palavras limitam-me, porra! Penso mais do que digo, vivo mais do que mostro. Comparações tristes e aproximações patéticas ao que é real e existe, eis o que são as palavras. Não passam de caixões onde tentamos encerrar o que só dentro de nós faz algum sentido, quando o faz de todo...!»

Cristóvão Figueiredo,
in Desumbiga (jornal de distribuição gratuita), nº 11: "Re*In*Evolução".
Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa.
des1biga@yahoogroups.com

E ainda, para os "palermas" que se queixam

Da minha falta de produtividade blhoguística.
Por acaso alguém se deu ao trabalho de ler isto até ao fim? É que foi feito à unha, compreendem? Se calhar sabia melhorzinho se viesse em fascículos, ânhumm?
Então vão lá... andem! ...que não sabem o que perdem. É Vitor Hugo.
suas caracoletas ranhosas, é isso, um dia hei-de desenvolver uma rosa que "sangre" lágrimas de órvalho sempre que amanhecer. Vou chamar-lhe Rosa Ranhosa
.
color:black;, [pâ quéque servem as comas? gostava de saber mudar a côr das fontes... às vezes, pelo menos.]

E ainda gostaria...

Ainda gostaria de estudar estes blhógues, fruto de uma só frutúita e frutífera lincágem. Por enquanto num sei bem o que lhes faça. Mas quase que merecem a criação de um campo à parte Um campo para Blhógues Excepcionais, que os distinga com deve de ser. Isto vai implicar migrações, e nem todos serão assim tão extraordinários (pelo menos ontem, pareceram-me), daí a necessidade de estudo:

(em 21 maio:
http://renaseveados.weblog.com.pt/
http://www.acausafoimodificada.blogspot.com/
http://almocrevedaspetas.blogspot.com/
http://babugem.blogspot.com/
http://bichos-carpinteiros.blogspot.com/
http://moodyswing.blogspot.com/
http://moreallofme.blogspot.com/
http://bomba-inteligente.blogspot.com

http://www.oquestrada.com/

Mas falta-me tempo, tempo para despachar trabalho, para tratar deste blhógue, para terminar as mudanças (ái!), para estar com a família, com as pessoas... E tem-me feito muita falta um bom(!) livro. Todos os que tinha devorei-os, há um "outro": vou devorando, mas num é para ler... é para ir lendo. Tentei googalizar a "Obra Quase Incompleta" do Alberto Pimenta publicado pela Fenda Editora e deu só isto! Ridiculo!!, da Fenda, então e em termos de ciber-visibilidade, nem se fale...
Faz-me falta uma ficção! Ou um romance... sim, um romance era bom, muito bom. Então é que ía tudo às úrtigas...

sexta-feira, maio 12, 2006

Fall, "A Última Ceia"




foto: cortesia do autor, Pedro Amaral, 2006

Pedro Amaral inicia o seu percurso artístico, no começo dos anos 90, sob o signo da pintura. Integra junto a Alice Geirinhas e João Fonte Santa, o colectivo SPARRING PARTNERS.

“A exposição FALL prossegue o trabalho anterior de convocação relacional de imagens de grande circulação mediática.
A intensificação dos aspectos ideológicos das iconografias investigadas constitui-se num processo crítico e irónico através do qual se pretende sugerir que a mundialização não é um fenómeno natural, mas um fenómeno político, com largos antecedentes, para atingir objectivos precisos.
Formalmente em suporte pintura, exploram-se conceitos como pobreza e abundância, democracia e liberalismo, ascensão e queda.
A crónica criada é especulativa mas aberta, por oposição à entropia de leituras que os media e demais poderes vão largando”. Pedro Amaral

quinta-feira, maio 11, 2006

UNDER THE STARS



Under the stars
I found a star
That asked me where to go

Under the stars
I found a star
Lost in space

Under the road
I found a road
That led to another road


foto e letra: cortesia do autor - António Olaio, 2006

António Olaio inicia o seu percurso artístico, no começo dos anos 80, sob o signo de uma dupla actividade: a pintura, a performance; posteriormente, pela via da performance, iniciar-se-ia na música e no vídeo.


"Em Under the stars, é associada a expectativa de maravilhoso à mais crua objectividade.
As estrelas aparecem aqui como que clichés da evocação da metafísica.
Ao surgirem na sua estilização gráfica, e ao serem imagens que se transformam em coisas, estas estrelas surgem ameaçadoramente cortantes, contundentes.
Uma estrela cadente é, de facto, um meteorito. E, se tiver a forma gráfica de uma estrela verá, certamente, substancialmente aumentado o seu potencial bélico.
A canção do vídeo Under the stars, aparece como banda sonora da exposição que se multiplica em:
- telas onde, nos lugares onde as estrelas se espetam como punhais, estas dão origem ao nascimento de outras realidades.
- desenhos que exploram as sua virtualidades conceptivas da própria ideia de desenho, encarando a expectativa de criatividade nas artes plásticas como um readymade a explorar.
- objectos onde representações de rostos são espetadas por varinhas mágicas que se limitam a expressar violentamente a sua materialidade.
E a canção Under the stars, na forma despudoradamente ternurenta como refere as estrelas, mais do que associar a arte ao belo, associa-a ao lindo, numa excessiva familiaridade que torna impossível qualquer pretensão de metafísica.
Under the stars I found a star that asked me where to go – de facto já não nos podemos orientar pelas estrelas se nem elas sabem onde estão – Under the stars I found a star lost in space.
Mais do que as estrelas de Under the stars, nesta exposição é explorada a condição de quem, como nós, está por baixo delas.
Num universo onde as imagens se coisificam, onde a metafísica se nega a si própria ao ser táctil, material, o que poderia ser uma atitude fortemente deceptiva explora sobretudo o encanto dessa condição. E nada melhor do que celebrar o fim da metafísica com uma canção. Na abstracção da melodia pode não haver coisa mais metafísica que o fim da metafísica." António Olaio



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UNDER THE STARS de António Olaio + FALL de Pedro Amaral
De 11 de Maio a 29 de Julho das 19h às 23h na ZDB
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quarta-feira, maio 10, 2006

Sermão de S.to António aos Peixes



“O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha,
parece a mesma brandura, a mesma mansidão.
E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar.
Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas a que está pegado.
As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia.”
PADRE ANTóNIO VIEIRA (1649)

terça-feira, maio 09, 2006

"Um" Pos'trasado

Desculpádo por um lema cá muito meu (róbadinho ò Sr. Quino, argentino), O que é que tenho feito?

...Muitas asneiras, e de seguida, ainda por cima. Algumas, até, daquelas que num se fazem. Mas nem só disso vive um rapaz: Descobri gente muito gira e, ainda mais díficil, uns (muito) poucos (muito) especiais.

Qué-que-querem? Lancei foguetes, fiz a festa, apanhei as canas e depois varri o chão da feira. Impagável. Rendi-me. Sou todo Vosso: Blhogólhândia e Blhógolhandeses, o processo de aculturação mais rápido a que já assisti. Na pele. Deslumbrado mais do que tatuado, mas a meio caminho andado...


O Lema? "A minha consideração vai toda para a tua pessoa. Sobra-me muito pouco para os teus aspectos pessoais." Mas vou fazer um esforço. Ao fim ao cabo: O Monstro também precisa de amigos.
Apesar de não ver caras tenho tentado ver corações, os nomes é que me escapam completamente. O mal que tenha feito em consciência, pois, vou tentar recuar nos passos e desfazê-lo um poucochinho. Ao bem que me fez ('que é que se diz?): Quero mais!
O que não tem remédio, remediado está e, por outro lado, algumas coisas é necessário deixar arrefecer antes de se tornar a remexer.
No entanto, No Entanto, No entanto... A alguns sítios não hei-de voltar, a outros fidelizár-me-ei, uns já larguei e... outros se alevantam. A vida num há-de ser só isto, pois não?

segunda-feira, maio 08, 2006

Ai é?,


Entonces vê lá isto.

«... abismo no meio do temporal de uma noite, que afinal, está toda inundada»

Esta é ambiciosa. E acontece por que num consigo ter nada para vos contar. Ou por onde começar seja o que for, ou o que quer que seja. Amén (assim seja, ái min... para os curtos de vista até faria um desenho.)

«(...)De repente começou a agitar-se. Dir-se-ia que avisava a criança. Era o vento que tornava a levantar-se.
Nada de tão extraordinário como aquele morto em movimento.
O cadáver pendente do extremo da corrente, impelido pelo sopro invisível, assumia uma certa atitude oblíqua, elevava-se para a esquerda, tornava a descer, e tornava a subir para a direita, e assim subia e descia com a pausada e fúnebre exactidão dum pêndulo. Era um vai e vem terrível. Julgar-se-ia ver nas trevas o pêndulo do relógio da eternidade.
Durou isto assim algum tempo. O pequeno, na presença daquela agitação do morto, sentia-se despertar, e atrás do resfriamento que o invadira, sentia claramente medo. A corrente a cada oscilação, rangia com uma regularidade medonha. Parecia que retomava fôlego para recomeçar. Aquele chiar assemelhava-se ao canto da cigarra.
A aproximação de uma borrasca produz súbitos ímpetos de vento. A brisa tornara-se de repente ventania. A oscilação do cadáver acentuou-se então sinistramente. Já não era balanço, era abalo. A corrente que rangia, gritou.
O grito da corrente parece ter sido ouvido. Se era um apelo, foi entendido. Do fundo do horizonte acudiu grande ruído.
Era o ruído de asas.
Sobrevinha um incidente, o incidente tempestuoso dos cemitérios e das solidões, a chegada de um bando de corvos.
Inúmeras manchas negras voadoras picaram o nevoeiro, furaram a bruma, aumentaram de volume, aproximaram-se, amalgamaram-se e condensaram-se, apressando-se para a colina, soltando gritos. Parecia a vinda de uma legião. Aquela escória alada das trevas chegou e pousou na forca.
A criança, assustada, recuou.
Os enxames obedecem a ordens. Os corvos tinham-se agrupado na forca. Nenhum estava sobre o cadáver. Falavam entre si. O grasnar é medonho. O uivo, o silvo e o rugido, representam vida; o grasnar é a aceitação satisfeita e voluntária da putrefacção. Quando se ouve grasnar parece ouvir-se o ruído que produz o silencio do sepulcro, ao despedaçar-se. O grasnar é uma voz que contém trevas. A criança estava gelada.
Mais ainda pelo terror que pelo frio.
Os corvos calaram-se. Um deles saltou para o esqueleto. Foi um sinal. Precipitaram-se todos, viu-se então uma núvem de asas; depois todas as penas se fecharam, e o enforcado desapareceu debaixo de um formigar incrível de ampolas negras que se agitavam na escuridão. Naquele momento o morto sacudiu-se.
Seria ele? Seria o vento? Deu uma espécie de salto medonho. O vendaval que se estava a desenvolver, ia em seu auxílio. O fantasma entrou em convulsão. Era a rajada, soprando agora em plenos pulmões, que se apoderava dele e o agitava em todos os sentidos. Tornou-se horrivel. Não parava de se mover. Era um boneco medonho, tendo por cordel a corrente de uma forca. Na sombra havia decerto algum parodista, que agarrava o cordel, e se divertia com aquela múmia, que volteava e saltava, como prestes a deslocar-se. Assustados o0s pássaros levantaram voo. Foi um ressaltar enorme de todos aqueles animais infames. Depois voltaram, e logo principiou a luta.
O morto pareceu então animado por uma vida monstruosa. Os ventos erguiam-no como se quisessem levá-lo; dir-se-ia que se debatia e esforçava por evadir-se; a golilha que lhe cingia o pescoço detinha-o. Os pássaros reproduziam todos os movimentos que fazia, recuando, depois avançando, enfurecidos e encarniçados.
De um lado, extraordinária tentativa de fuga; do outro, presseguição a um acorrentado. O morto, impelido por todos os espasmos do vento, tinha sobressaltos, abalos e acessos de cólera; ia, vinha, subia, descia, repelindo sem descanso o enxame disseminado. O morto era clava, o enxame poeira. A terrivel saraivada assaltante não largava a presa e mostrava-se cada vez mais teimosa. O morto, como que atacado de loucura sob aquela mantilha de bicos, multiplicava no vácuo as suas pancadas cegas, que fazia lembrar o girar de uma pedra na funda. Por momentos tinha em cima de si todas as garras e todas as asas, depois nada; eram desvanecimentos da orda seguidos imediatamente de novos e furiosos ataques. Terrível suplício que continuava depois da morte. Os pássaros pareciam fernéticos. os respiradores do inferno devem dar passagem a semelhantes enxames. Ferimentos de garras, picadas, o grasnar contínuo, o arrancar de pedaços que já não eram de carne, o ranger da forca, o roçar de um esqueleto, o tinir de ferragem, o sibilar da rajada, o túmulo, enfim; não se pode imaginar luta mais sinistra. Um duende contra demónios. Uma espécie de combate entre espectros.
Por vezes, redobrando o vento, o enforcado girava sobre si mesmo, resistindo ao enxame por todos os lados alternadamente, parecia querer correr atrás dos pássaros. Quando virava para eles os dentes, parecia querer mordê-los. O morto tinnha o vento a seu favor e a corrente contra, como se naquilo se intrometessem deuses das trevas. O vendaval era a batalha. O enforcado estorcia-se, o bando de pássaros rodava por cima dele em espiral. Era um rodopio num turbilhão.
Em baixo ouvia-se um rugir imenso, que era o mar.
A criança olhava para aquele sonho. De repente pôs-se a tremer como varas verdes; ao mesmo temppo, correu-lhe por todo o corpo um calafrio, cambaleou, faltou-lhe a vista e esteve para cair, voltou-se, apertou a cabeça entre as mãos, como se a cabeça fosse um ponto de apoio, e, desvairado, com os cabelos ao vento, desceu a colina a passos largos e comos olhos fechados, quase fantasma também, fugindo e deixando atrás de si aquele tormento na noite.»
Vitor Hugo in O Homem Que Ri, Capítulo 5: Árvore De Invenção Humana

quarta-feira, maio 03, 2006

Um Post-it Gamado: extou muito, muito Felixxxxxxxx

Ante-ontem foi a Nossa primeira desgarrada.
No dia seguinte faltei ao Ioga, mas e ainda assim senti-me tão bem.
Ontem... Ontem foi a loucura.
Hoje: Sinto-me possesso (mais uma vez numa ocupação com 4 ésses).
Só lamento: a tua condição de Zombie. E isso é a única sombra que ofusca este esplendoroso dia. Sinto-me preocupado, contigo a guiar por aí, ...please... hoje num tires as mãos do volante, nem para tirar uma fotografia, nem uma. Quando chegares, já lá estará, à tua espera, a única fotografia que (hoje) te falta. E faz boa viagem, e regressa bem:
Saudades, já, muitas e plenas de sentidos, Saudades, saudades, saudades...

E agora Veneno,

agora Veneno, estão a atirar-me o meu próprio veneno à cara

terça-feira, maio 02, 2006

Ao menos

uma hipótese para explicar o porquê e a natureza das coisas na sua condição de serem raras.

Correndo riscos... desnecessários, mas intensamente prioritários: A ânsia de te ver e rever diariamente nos episódios que marcam o passar do agora, já foi, este presente era o futuro que entretanto se fez passado, e eu torpi-me... tropecei, escorreguei e cai no chão,
ralado de preocupação

sinceramente, sou
O Desastrado

Ai o Amor,

«Ai o amor,
O amor é como'à lua
ora cresce ora míngua.»

in "Ó Que'Strada"


«I once fall in love with you
Just because the sky
turn from grey into blue»

from [onde é que eu estava com a cabeça?] Cocorosie