segunda-feira, julho 17, 2006

Afinal - (ainda o) Álvaro de Campos

(...)
Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direcções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estória
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem em baixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.
Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,
Cruzando-se em todas as direcções com outros volantes,
Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.

Dentro de mim estão presos e atados ao chão
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,
A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direcções!










[quis espaço. "Isto" soa-me a oração.]

7 Bombadas­:

Blogger Lyra acrescenta que...

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Álvaro de Campos

Estou Cansado

1:12 da manhã, julho 18, 2006  
Blogger Goiaoia acrescenta que...

Lindo!
E tens razão e obrigado e estas eram as palavras que me faltavam...

1:15 da manhã, julho 18, 2006  
Blogger Unknown acrescenta que...

bom post

9:07 da manhã, julho 18, 2006  
Blogger Lyra acrescenta que...

(( ))

1:45 da tarde, julho 18, 2006  
Blogger Goiaoia acrescenta que...

O último a sair, fáx favor, que feche a porta e traga a luz!
(que tolice, deixá-la lá, onde num serve para nada)

5:23 da tarde, julho 18, 2006  
Blogger Lyra acrescenta que...

não é tolice. Sim deveria ter sido assim. Que feche a porta e traga a luz. Faz-me tanta falta a luz. Desconfio que deixei de saber observá-la. Se calhar andam mil velas e candieiros e sóis a brilhar por todo lado e tenho os olhos cegos.
Faz-me tanta, imensa, imensa falta a luz.

Quando a interior se apaga será que resta um bocadinho que seja para que se ilumine de novo?
devia perguntar-te isto por emaile (:) ) mas não me apetece.
Estou cansado. E a verdade é que não há prazer no cansaço que isto dá.

STEVK antes que apague o comentário porque sei que depois não o faço por mail.

6:46 da tarde, julho 18, 2006  
Blogger Goiaoia acrescenta que...

STEVK é simples. Bem o mereceste

ssmeyr

10:24 da tarde, julho 21, 2006  

Enviar um comentário

<< Home